LEIA - Quem somos

O projecto LE.I.A. continua activo e aparece agora renovado: ao associar-se ao projecto LER+ do Plano Nacional de Leitura, ganhou a sigla M.L.M (Melhores Leitores do Mundo). Continua a ser um espaço de partilha de experiências de leitura, mas integra agora na sua estrutura um verdadeiro clube de alunos leitores.

Permanece, no entanto, sempre aberto às sugestões de leitura que nos queiram enviar. Por isso, se acabou de ler um livro e gostou, escreva alguma palavras sobre ele e envie o texto para
leia.esmtg@gmail.com. Nós temos o maior gosto em publicá-lo no blogue.
Sugira. Comente. Participe. O blogue é o seu espaço.

Ana Gonzaga

Rosário Cardoso







sábado, 31 de outubro de 2009

Corações na Atlântida

“Um livro é um bom amigo”, sem dúvida.
Um livro é um bom amigo, não só porque nos transporta para uma outra dimensão, mais imaginativa, mais criativa, como também nos fornece uma cultura geral vastíssima e nos dá a conhecer novas palavras e expressões.
Ler um livro, seja ele qual for, é um desporto mental, que nos obriga a crescer.
Um dos livros que mais me marcou, até hoje, foi “Corações na Atlântida”, de Stephen King. O livro narra a história de três pessoas cujas vidas estão ligadas entre si, nem sempre devido a boas circunstâncias. À medida que estas pessoas crescem vão-se apercebendo de que os sonhos não são para quem está acordado.

Devido às circunstâncias da vida, estas três amizades acabam por se separar, encontrando-se mais tarde, devido às consequências de um acontecimento conjuntural, também abordado no livro de uma forma muito subtil, que marcou a história da Humanidade, a guerra do Vietname.

Um “thriller” que aconselho.


André Oliveira

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O Papalagui, comentários de Tuivauii, chefe da tribo Tiávea nos mares do Sul


Certo dia, a minha mãe perguntou-me que disciplinas iria eu escolher. Respondi prontamente, Geografia C e Antropologia. A minha mãe entusiasmou-se com a minha escolha pela disciplina de Antropologia e foi mergulhar no seu escritório à procura sabe-se lá de quê. Passaram-se uns 10 minutos e minha mãe não voltava, por fim, lá veio com um livreco na mão. O dito livro era de tamanho pequeno, A5 portanto, era de cor escura, tinha uma estranha imagem de ilustração de capa, e seu autor era um tal de Tuiavii, chefe de uma tribo dos mares do sul. Este livro não me chamou em nada a atenção, mas, pelo contrário, o discurso de minha mãe sim. Ela disse-me que qualquer aluno que quisesse estudar Antropologia deveria de ler este livro. Era, portanto, um livro basilar para o estudo da Antropologia. Era óbvio que eu o iria ler!
Nesse mesmo dia comecei a lê-lo. Logo a introdução, não do autor, mas sim de um alemão, Erich Scheurmann, dá-nos a definição de tão estranho título: Papalagui é o nome que Tuiavii dava ao branco, ao europeu. Ora bem, iremos às definições. Tuiavii era o chefe de uma tribo, que vivia na aldeia de Tiavéa. Essa aldeia situa-se na ilha de Upolu, pertencente ao arquipélago de Samoa, na Indonésia. Estas ilhas eram pertencentes ao Império Alemão do ultramar. Este senhor, chamado Erich Scheurmann, foi um antropólogo que foi viver com esta tribo, dessa aldeia, a fim de a estudar devidamente. No livro estão-nos apresentados todos os escritos do Tuiavii, sobre o Papalagui. Na sua infância, Tuiavii expressou um enorme desejo em visitar as terras da longínqua Europa. Contudo, apenas na idade adulta conseguiu tal feito. Ele visitou um por um todos os países europeus, assimilando conhecimentos precisos sobre o modo de vida e a cultura desses países. Este indígena, sem cultura erudita, possuía uma enorme capacidade de observação e conseguia tirar importantes ilações de coisas aparentemente insignificantes para nós. Essa observação era neutral, isenta de presunção ou preconceitos; nada o desviava da verdade, embora não abandonasse o seu ponto de vista.

O antropólogo Erich, teve um importante papel na difusão destes textos tão importantes para o estudo da Antropologia. Ele viveu na aldeia do Tuiavii durante mais do que um ano e tornou-se amigo do chefe da tribo. Este, por sua vez, mostrou-lhe os seus textos e deixou-o traduzi-los para alemão. Erich publicou-os após a sua chegada à Alemanha, sem o conhecimento do samoense.

Ora bem, e o que tem de tão interessante para nos contar que nós não saibamos? Tem toda uma nova perspectiva da nossa sociedade; tem a sua visão clara e a sua linguagem simples que nos mostram a sua filosofia que não provem do estudo mas sim da observação. É essencialmente um livro diferente; com uma perspectiva diferente. Pensemos nisto: se consideramos as sociedades do Oriente ou da Ásia diferentes, observemos quão diferente é a nossa sociedade para eles. Os Samoenses podiam não ter nenhum tipo de educação similar à nossa, nem conhecimentos eruditos como nós, mas não eram nenhuns “coitadinhos” para nós termos pena deles, muito pelo contrário, eles é que, à luz dos discursos do seu chefe de tribo, tinham pena de nós, por vivermos numa sociedade mergulhada nas trevas e fora do conceito de Deus.

Aconselho vivamente todos a lerem este livro, para melhor compreenderem a nossa sociedade.


Ruben Santos

quarta-feira, 7 de outubro de 2009


O quase fim do mundo - Pepetela - A escolha do livro


As minhas escolhas de livro nunca foram fáceis. No entanto, desta vez não foi muito difícil.


O fim do Mundo, quantas vezes é que ouvimos falar disso hoje em dia? Existem tantas teorias acerca disso…em 2012 o calendário dos Maias acabará e com ele o nosso Mundo, virá um meteorito e destruirá tudo…enfim, não vou estar a enumerá-las todas, afinal quero contar como é que escolhi o meu livro.

É estranho como certas pessoas nos impressionam. Podem ser as pessoas mais estranhas e esquisitas…

«Era uma daquelas noites quentes de Verão. Fui a uma feira medieval, em Silves, com a minha mãe, a minha irmã e uma amiga. Já tinha visto aquela feira há um ano atrás, até achava alguma graça. As pessoas pareciam adorar esse seu papel de habitantes de outros tempos. (Seria uma vida mais fácil, menos artificial?)

Quase no fim da noite, fomos a uma tenda em que uma Senhora de meia-idade vendia chá.

Essa Senhora era conhecida na minha família como «bruxa das ervas» pois, desde sempre tinha a sua quinta lá nas montanhas onde cultivava as mais diversas ervas. Além disso, o seu aspecto físico condizia perfeitamente com esse seu “cognome”.

De entre os dentes amarelos conseguia-se adivinhar ainda algumas ervas enquanto falava com a sua voz baixa e sussurrante. Todo o seu corpo vestido de linho emanava um aroma a alecrim e jasmim, tudo era natural e, de um certo modo, estranho.

O mais estranho não era, no entanto, o seu aspecto físico. Eram as suas palavras…

Enquanto a minha mãe lhe perguntava pelas filhas, a minha irmã e eu escolhemos alguns chás. Quando íamos pagar o chá de Liberdade e de Anti-stress, a «bruxa-das-ervas» disse-nos ainda que devíamos mandar energia positiva para o chá, senão não teria efeito.

A minha irmã e eu evitámos um riso quando acrescentou que não podíamos gritar para a água, pois, esta assim estaria «poluída». Apesar desta ideia parecer estranha, é verdadeira: as moléculas da água transformam-se segundo o ambiente em que estão inseridas. Mas como é que a «bruxa-das-ervas» o poderia saber??!

Esta pergunta iria colocar-me mais uma vez nesta noite, no entanto não seria assim tão fácil responder-lhe.

“Para o ano não vou estar cá na feira. Vou para uma montanha em África, começar uma nova vida”-captei de uma conversa da «bruxa-das-ervas» e da minha mãe. “-Em 2012, já não poderei cultivar nada aqui. O mundo acabará, só África é que não será atingida, mas então não sabem disso?”- continuou a «bruxa-das-ervas».

Sim, sabia, já estava cansada de o ler em revistas…no entanto, desta vez era diferente. Como é que uma pessoa tão ligada à natureza, tão sábia e verdadeira acreditava nessas teorias «idiotas»?

Para ser honesta, a «bruxa-das-ervas» é uma daquelas pessoas estranhas, que até pode ter poucos estudos ou nenhuns, mas às quais se acredita quase tudo. Parece existir qualquer coisa que as transcende…talvez seja a sua profunda união com a natureza, não sei…Só sei que tenho um enorme respeito pela «bruxa-das-ervas» e que a sua previsão o fim do mundo me deixou bastante inquieta…”

Sim, foi dessa inquietude que nasceu o meu interesse pelo Quase fim do Mundo. Já o tinha visto imensas vezes nas estantes da livraria. Sinceramente, a sua capa não me atraia minimamente. Tinha o aspecto de um «livro de consumo». Mas não conseguia ignorar as palavras da «bruxa-das-ervas» e fui pegar nele. Quase não acreditei nas palavras que encontrei nas costas do livro:

E se a vida animal de repente desaparecesse da Terra excepto num pequeno recanto do mundo e em doses mínimos? Talvez as causas se conheçam depois, mas o que importa é a existência de alguns seres, aturdidos pelo desaparecimento de tantos, e procurando sobreviver. É sobre estes sobreviventes e as suas reacções, desejos, frustrações mas também pequenas/grandes vitórias que trata este romance. Detalhe importante: o recanto do mundo que escapou à hecatombe situa-se numa desgraçada zona da desgraçada África. O que permitirá questionar as relações contemporâneas no velho Mundo.

Laila  Franke