LEIA - Quem somos

O projecto LE.I.A. continua activo e aparece agora renovado: ao associar-se ao projecto LER+ do Plano Nacional de Leitura, ganhou a sigla M.L.M (Melhores Leitores do Mundo). Continua a ser um espaço de partilha de experiências de leitura, mas integra agora na sua estrutura um verdadeiro clube de alunos leitores.

Permanece, no entanto, sempre aberto às sugestões de leitura que nos queiram enviar. Por isso, se acabou de ler um livro e gostou, escreva alguma palavras sobre ele e envie o texto para
leia.esmtg@gmail.com. Nós temos o maior gosto em publicá-lo no blogue.
Sugira. Comente. Participe. O blogue é o seu espaço.

Ana Gonzaga

Rosário Cardoso







sábado, 12 de dezembro de 2009

Lembrando o Natal...


NATAL


Acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.

Era gente a correr pela música acima.

Uma onda uma festa. Palavras a saltar.

Eram carpas ou mãos. Um soluço uma rima.

Guitarras guitarras. Ou talvez mar.

E acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.

Na tua boca. No teu rosto. No teu corpo acontecia.

No teu ritmo nos teus ritos.

No teu sono nos teus gestos. (Liturgia liturgia).

Nos teus gritos. Nos teus olhos quase aflitos.

E nos silêncios infinitos. Na tua noite e no teu dia.

No teu sol acontecia.

Era um sopro. Era um salmo. (Nostalgia nostalgia).

Todo o tempo num só tempo: andamento

de poesia. Era um susto. Ou sobressalto. E acontecia.

Na cidade lavada pela chuva. Em cada curva

acontecia. E em cada acaso. Como um pouco de água turva

na cidade agitada pelo vento.

Natal Natal (diziam). E acontecia.

Como se fosse na palavra a rosa brava

acontecia. E era Dezembro que floria.

Era um vulcão. E no teu corpo a flor e a lava.

E era na lava a rosa e a palavra.

Todo o tempo num só tempo: nascimento de poesia.

Manuel Alegre

José Saramago, Caim

Caim... o nome ressoa-me na mente, mas não o identifico imediatamente. Faço uma pequena pesquisa na Internet e logo entro num longínquo passado - como Caim - e recordo. Relembro a minha fugaz passagem por Monchique num assombroso Verão onde ainda mais assombrosas leituras pagãs fiz, leituras que me despertaram a curiosidade para as denominadas sagradas escrituras, que efectivamente li sob a égide do meu cepticismo. Relembrei nessa fugidia memória, o jardim do Éden, onde Adão e Eva passaram muitos anos, tendo sido depois castigados e ido viver para a Terra, só por comerem um fruto de uma árvore, (que crime mais patético de se cometer!). Recordo também os seus filhos, os dois primeiros, em especial, Abel e Caim, nomes indissociáveis pelo seu entrosamento e história, mas que eu ousei dissociar. Mais cuidado tenho de ter, pelo receio da fúria divina que, segundo Saramago, é fatal!


Ora bem, quem conhece a história como deve de ser apercebe-se de que o Senhor é alvo de uma chantagem por parte do assassino Caim, e Deus faz um pacto com ele. Caim deve deixar tudo o que tem para trás e ter uma vida de forasteiro e de permanente viajante, não encontrando pouso em algum lugar da Terra; em troca, Deus marca Caim com um sinal na sua testa e, dessa forma, Caim estará preservado de todos os males violentos do Mundo e só morrerá por morte natural.

Caim parte e toma o caminho, para alguns, o que Deus lhe mostrar, para outros, o que lhe aprouver.

De alguma forma, que o autor não explica, Caim ganha o poder de, sem o controlar, viajar pelos futuros, que para ele se tornaram presentes, e assistir a alguns episódios que mostram uma imagem muito diferente, digamos assim, da imagem que temos de Deus.

É um livro que aconselho vivamente para quem se sente curioso sobre que tipos de episódios são esses e no que consistem. Para os que se assumem cristãos, penso que a leitura deste livro poderá ser chocante. Acima de toda a polémica que o envolve, acho que é um livro escrito de forma exímia e desafiante para os alunos que estejam a iniciar leituras mais “sérias”.

Ruben dos Santos