As minhas escolhas de livro nunca foram fáceis. No entanto, desta vez não foi muito difícil.
O fim do Mundo, quantas vezes é que ouvimos falar disso hoje em dia? Existem tantas teorias acerca disso…em 2012 o calendário dos Maias acabará e com ele o nosso Mundo, virá um meteorito e destruirá tudo…enfim, não vou estar a enumerá-las todas, afinal quero contar como é que escolhi o meu livro.
É estranho como certas pessoas nos impressionam. Podem ser as pessoas mais estranhas e esquisitas…
«Era uma daquelas noites quentes de Verão. Fui a uma feira medieval, em Silves, com a minha mãe, a minha irmã e uma amiga. Já tinha visto aquela feira há um ano atrás, até achava alguma graça. As pessoas pareciam adorar esse seu papel de habitantes de outros tempos. (Seria uma vida mais fácil, menos artificial?)
Quase no fim da noite, fomos a uma tenda em que uma Senhora de meia-idade vendia chá.
Essa Senhora era conhecida na minha família como «bruxa das ervas» pois, desde sempre tinha a sua quinta lá nas montanhas onde cultivava as mais diversas ervas. Além disso, o seu aspecto físico condizia perfeitamente com esse seu “cognome”.
De entre os dentes amarelos conseguia-se adivinhar ainda algumas ervas enquanto falava com a sua voz baixa e sussurrante. Todo o seu corpo vestido de linho emanava um aroma a alecrim e jasmim, tudo era natural e, de um certo modo, estranho.
O mais estranho não era, no entanto, o seu aspecto físico. Eram as suas palavras…
Enquanto a minha mãe lhe perguntava pelas filhas, a minha irmã e eu escolhemos alguns chás. Quando íamos pagar o chá de Liberdade e de Anti-stress, a «bruxa-das-ervas» disse-nos ainda que devíamos mandar energia positiva para o chá, senão não teria efeito.
A minha irmã e eu evitámos um riso quando acrescentou que não podíamos gritar para a água, pois, esta assim estaria «poluída». Apesar desta ideia parecer estranha, é verdadeira: as moléculas da água transformam-se segundo o ambiente em que estão inseridas. Mas como é que a «bruxa-das-ervas» o poderia saber??!
Esta pergunta iria colocar-me mais uma vez nesta noite, no entanto não seria assim tão fácil responder-lhe.
“Para o ano não vou estar cá na feira. Vou para uma montanha em África, começar uma nova vida”-captei de uma conversa da «bruxa-das-ervas» e da minha mãe. “-Em 2012, já não poderei cultivar nada aqui. O mundo acabará, só África é que não será atingida, mas então não sabem disso?”- continuou a «bruxa-das-ervas».
Sim, sabia, já estava cansada de o ler em revistas…no entanto, desta vez era diferente. Como é que uma pessoa tão ligada à natureza, tão sábia e verdadeira acreditava nessas teorias «idiotas»?
Para ser honesta, a «bruxa-das-ervas» é uma daquelas pessoas estranhas, que até pode ter poucos estudos ou nenhuns, mas às quais se acredita quase tudo. Parece existir qualquer coisa que as transcende…talvez seja a sua profunda união com a natureza, não sei…Só sei que tenho um enorme respeito pela «bruxa-das-ervas» e que a sua previsão o fim do mundo me deixou bastante inquieta…”
Sim, foi dessa inquietude que nasceu o meu interesse pelo Quase fim do Mundo. Já o tinha visto imensas vezes nas estantes da livraria. Sinceramente, a sua capa não me atraia minimamente. Tinha o aspecto de um «livro de consumo». Mas não conseguia ignorar as palavras da «bruxa-das-ervas» e fui pegar nele. Quase não acreditei nas palavras que encontrei nas costas do livro:
E se a vida animal de repente desaparecesse da Terra excepto num pequeno recanto do mundo e em doses mínimos? Talvez as causas se conheçam depois, mas o que importa é a existência de alguns seres, aturdidos pelo desaparecimento de tantos, e procurando sobreviver. É sobre estes sobreviventes e as suas reacções, desejos, frustrações mas também pequenas/grandes vitórias que trata este romance. Detalhe importante: o recanto do mundo que escapou à hecatombe situa-se numa desgraçada zona da desgraçada África. O que permitirá questionar as relações contemporâneas no velho Mundo.
Laila
Franke