Este livro foi-me oferecido por uma pessoa muito querida.
Quando vi a capa e li o título achei que iria ser interessante lê-lo. Ambos remetem para os sentimentos, a saudade e a importância das pessoas na nossa vida. Há certos acontecimentos que nos levam à necessidade de repensar a nossa importância no mundo. Todos os dias sucedem coisas que nos mudam e fazem com que hoje não sejamos quem éramos ontem.
Será que damos o devido valor ao que nos rodeia?
Este livro, narrado a duas vozes – uma delas de uma mulher que acaba de morrer e outra de um homem que fica a chorar a morte desta - vai então explorar essas ideias, fazendo com que meditemos sobre o que afinal nos “faz falta”.
Vemos aqui presentes duas vidas entrecruzadas, a de um passado remoto, que agora vagueia perdido nas curvas do tempo e a de um presente que não se conforma com a morte.
Deparamo-nos assim com uma situação bastante nostálgica. Ao longo da nossa leitura é possível notar, através da personagem que acaba de perder alguém muito próximo, que ambos continuam a ter uma ligação muito forte.
É como se o limiar da morte e da vida não conseguisse separar esse enorme apreço que ambos têm um pelo outro.
A mulher, já morta, mantém diálogos com o homem, que permanece vivo. As falas desses diálogos ocorrem alternadamente, permitindo ao leitor observar os factos narrados sob pontos de vista diferentes.
Viajando no tempo, observando as interrogações e confissões de cada um, acabamos por ganhar uma certa a proximidade com estas personagens.
À medida que o perfil de cada personagem é delineado através dos temas abordados, como a política, a amizade, a corrupção, a violência, o amor, a injustiça, a história, a hipocrisia, o leitor é introduzido num mundo de máscaras sociais e de certos valores que ainda hoje se vêem representados num Portugal contemporâneo.
As personagens não têm nome, o que traduz a universalidade das mesmas, levando o leitor a tentar comparar-se a cada uma delas, vendo-se na pele das mesmas e revivendo o que estas estão a sentir.
Toda a história se debruça sobre a “ausência", a incapacidade do ser humano de aceitar a morte, o facto de este não se conformar com a perda, tentando combater esse irremediável muro que existe entre a vida e a morte.
Vemos aqui representado o drama de um homem e uma mulher em busca da completude, tentando manter a sua chama amorosa após a morte. Representam eles duas gerações completamente distintas, que acabam por tentar unir-se, ela, uma mulher jovem e cheia de esperança e ele, um homem velho e carregado de descrenças, ambos unidos pelo amor e entendimento.
Um livro apaixonante, aclamado pela crítica, esta obra foi considerada o melhor romance de Inês Pedrosa.
A autora debruça-se, assim, sobre a vida e a morte, o irreparável e o irremediável, num romance de grande intensidade poética que nos conduz aos sentimentos imortais e nos apresenta também factos realistas e actuais.
Eu penso que o livro nos quer deixar uma mensagem bem clara em relação à vida.
É precisamente essa ideia de mostrar que não é necessário viver só de frustração e dor, que temos que aproveitar a vida, agarrar as coisas com ambição, saber dar o devido valor às pessoas e ao que nos rodeia, para um dia mais tarde não nos arrependermos e lamentarmos sobre o que ficou por fazer e por dizer…talvez no dia em que isso seja descoberto, já seja demasiado tarde.
Um livro que vale a pena ler, aconselho vivamente!
“Tu. (...) Feliz por estar ao teu lado outra vez. Ao lado dessa que já estava morta um bom par de anos antes de tu morreres. Fazes-me falta. Mas a vida não é mais do que uma sucessão de faltas que nos animam. A tua morte alivia-me do medo de morrer. Contigo fora de jogo, diminui o interesse da parada. E se tu morreste, também eu serei capaz de morrer, sem que as ondas nem o céu nem o silêncio se transtornem. Cair em ti, cada vez mais longe da mísera ficção de mim.”