LEIA - Quem somos

O projecto LE.I.A. continua activo e aparece agora renovado: ao associar-se ao projecto LER+ do Plano Nacional de Leitura, ganhou a sigla M.L.M (Melhores Leitores do Mundo). Continua a ser um espaço de partilha de experiências de leitura, mas integra agora na sua estrutura um verdadeiro clube de alunos leitores.

Permanece, no entanto, sempre aberto às sugestões de leitura que nos queiram enviar. Por isso, se acabou de ler um livro e gostou, escreva alguma palavras sobre ele e envie o texto para
leia.esmtg@gmail.com. Nós temos o maior gosto em publicá-lo no blogue.
Sugira. Comente. Participe. O blogue é o seu espaço.

Ana Gonzaga

Rosário Cardoso







sábado, 12 de dezembro de 2009

Lembrando o Natal...


NATAL


Acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.

Era gente a correr pela música acima.

Uma onda uma festa. Palavras a saltar.

Eram carpas ou mãos. Um soluço uma rima.

Guitarras guitarras. Ou talvez mar.

E acontecia. No vento. Na chuva. Acontecia.

Na tua boca. No teu rosto. No teu corpo acontecia.

No teu ritmo nos teus ritos.

No teu sono nos teus gestos. (Liturgia liturgia).

Nos teus gritos. Nos teus olhos quase aflitos.

E nos silêncios infinitos. Na tua noite e no teu dia.

No teu sol acontecia.

Era um sopro. Era um salmo. (Nostalgia nostalgia).

Todo o tempo num só tempo: andamento

de poesia. Era um susto. Ou sobressalto. E acontecia.

Na cidade lavada pela chuva. Em cada curva

acontecia. E em cada acaso. Como um pouco de água turva

na cidade agitada pelo vento.

Natal Natal (diziam). E acontecia.

Como se fosse na palavra a rosa brava

acontecia. E era Dezembro que floria.

Era um vulcão. E no teu corpo a flor e a lava.

E era na lava a rosa e a palavra.

Todo o tempo num só tempo: nascimento de poesia.

Manuel Alegre

José Saramago, Caim

Caim... o nome ressoa-me na mente, mas não o identifico imediatamente. Faço uma pequena pesquisa na Internet e logo entro num longínquo passado - como Caim - e recordo. Relembro a minha fugaz passagem por Monchique num assombroso Verão onde ainda mais assombrosas leituras pagãs fiz, leituras que me despertaram a curiosidade para as denominadas sagradas escrituras, que efectivamente li sob a égide do meu cepticismo. Relembrei nessa fugidia memória, o jardim do Éden, onde Adão e Eva passaram muitos anos, tendo sido depois castigados e ido viver para a Terra, só por comerem um fruto de uma árvore, (que crime mais patético de se cometer!). Recordo também os seus filhos, os dois primeiros, em especial, Abel e Caim, nomes indissociáveis pelo seu entrosamento e história, mas que eu ousei dissociar. Mais cuidado tenho de ter, pelo receio da fúria divina que, segundo Saramago, é fatal!


Ora bem, quem conhece a história como deve de ser apercebe-se de que o Senhor é alvo de uma chantagem por parte do assassino Caim, e Deus faz um pacto com ele. Caim deve deixar tudo o que tem para trás e ter uma vida de forasteiro e de permanente viajante, não encontrando pouso em algum lugar da Terra; em troca, Deus marca Caim com um sinal na sua testa e, dessa forma, Caim estará preservado de todos os males violentos do Mundo e só morrerá por morte natural.

Caim parte e toma o caminho, para alguns, o que Deus lhe mostrar, para outros, o que lhe aprouver.

De alguma forma, que o autor não explica, Caim ganha o poder de, sem o controlar, viajar pelos futuros, que para ele se tornaram presentes, e assistir a alguns episódios que mostram uma imagem muito diferente, digamos assim, da imagem que temos de Deus.

É um livro que aconselho vivamente para quem se sente curioso sobre que tipos de episódios são esses e no que consistem. Para os que se assumem cristãos, penso que a leitura deste livro poderá ser chocante. Acima de toda a polémica que o envolve, acho que é um livro escrito de forma exímia e desafiante para os alunos que estejam a iniciar leituras mais “sérias”.

Ruben dos Santos

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Inês Pedrosa, Fazes-me falta



Este livro foi-me oferecido por uma pessoa muito querida.


Quando vi a capa e li o título achei que iria ser interessante lê-lo. Ambos remetem para os sentimentos, a saudade e a importância das pessoas na nossa vida. Há certos acontecimentos que nos levam à necessidade de repensar a nossa importância no mundo. Todos os dias sucedem coisas que nos mudam e fazem com que hoje não sejamos quem éramos ontem.

Será que damos o devido valor ao que nos rodeia?

Este livro, narrado a duas vozes – uma delas de uma mulher que acaba de morrer e outra de um homem que fica a chorar a morte desta - vai então explorar essas ideias, fazendo com que meditemos sobre o que afinal nos “faz falta”.

Vemos aqui presentes duas vidas entrecruzadas, a de um passado remoto, que agora vagueia perdido nas curvas do tempo e a de um presente que não se conforma com a morte.

Deparamo-nos assim com uma situação bastante nostálgica. Ao longo da nossa leitura é possível notar, através da personagem que acaba de perder alguém muito próximo, que ambos continuam a ter uma ligação muito forte.

É como se o limiar da morte e da vida não conseguisse separar esse enorme apreço que ambos têm um pelo outro.

A mulher, já morta, mantém diálogos com o homem, que permanece vivo. As falas desses diálogos ocorrem alternadamente, permitindo ao leitor observar os factos narrados sob pontos de vista diferentes.

Viajando no tempo, observando as interrogações e confissões de cada um, acabamos por ganhar uma certa a proximidade com estas personagens.

À medida que o perfil de cada personagem é delineado através dos temas abordados, como a política, a amizade, a corrupção, a violência, o amor, a injustiça, a história, a hipocrisia, o leitor é introduzido num mundo de máscaras sociais e de certos valores que ainda hoje se vêem representados num Portugal contemporâneo.

As personagens não têm nome, o que traduz a universalidade das mesmas, levando o leitor a tentar comparar-se a cada uma delas, vendo-se na pele das mesmas e revivendo o que estas estão a sentir.

Toda a história se debruça sobre a “ausência", a incapacidade do ser humano de aceitar a morte, o facto de este não se conformar com a perda, tentando combater esse irremediável muro que existe entre a vida e a morte.

Vemos aqui representado o drama de um homem e uma mulher em busca da completude, tentando manter a sua chama amorosa após a morte. Representam eles duas gerações completamente distintas, que acabam por tentar unir-se, ela, uma mulher jovem e cheia de esperança e ele, um homem velho e carregado de descrenças, ambos unidos pelo amor e entendimento.

Um livro apaixonante, aclamado pela crítica, esta obra foi considerada o melhor romance de Inês Pedrosa.

A autora debruça-se, assim, sobre a vida e a morte, o irreparável e o irremediável, num romance de grande intensidade poética que nos conduz aos sentimentos imortais e nos apresenta também factos realistas e actuais.

Eu penso que o livro nos quer deixar uma mensagem bem clara em relação à vida.

É precisamente essa ideia de mostrar que não é necessário viver só de frustração e dor, que temos que aproveitar a vida, agarrar as coisas com ambição, saber dar o devido valor às pessoas e ao que nos rodeia, para um dia mais tarde não nos arrependermos e lamentarmos sobre o que ficou por fazer e por dizer…talvez no dia em que isso seja descoberto, já seja demasiado tarde.

Um livro que vale a pena ler, aconselho vivamente!


“Tu. (...) Feliz por estar ao teu lado outra vez. Ao lado dessa que já estava morta um bom par de anos antes de tu morreres. Fazes-me falta. Mas a vida não é mais do que uma sucessão de faltas que nos animam. A tua morte alivia-me do medo de morrer. Contigo fora de jogo, diminui o interesse da parada. E se tu morreste, também eu serei capaz de morrer, sem que as ondas nem o céu nem o silêncio se transtornem. Cair em ti, cada vez mais longe da mísera ficção de mim.”

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Anne Bishop, A Aliança das Trevas

A autora de “A Trilogia das Jóias Negras” mostrou mais uma vez a sua perícia no mundo do fantástico. “A Aliança das Trevas” é um romance que integra o cenário obscuro, intenso e marcadamente sensual das obras anteriores, levando o leitor a mergulhar no universo criativo de Anne Bishop.


Quem não leu os livros anteriores terá dificuldade em entender a sociedade dos “Sangue”, regida pelas mulheres e onde o poder assenta na magia contida em Jóias, de acordo com o seu poder e na casta de cada indivíduo. Uma sociedade onde os machos servem uma Rainha, que controla o território, com lealdade incondicional… ou pelo menos assim deveria ser.

Neste novo volume seguimos a história do último primogénito descendente de Lia e Jared, Theran Greyhaven, e a sua tentativa de repor a paz em Dena Nehele. Com a ajuda de Saetan, o Senhor Supremo do Inferno e de Jaenelle, ex-Rainha de Ebon Askavi, Theran contrata Cassidy- Rainha rejeitada pela sua própria corte por não ser atraente - para assumir o poder na sua terra natal. As diferenças entre Cassidy e Theran põem o território em xeque, e a instabilidade começa a fazer-se sentir, mas a bondade e amizade da nova Rainha, e o apoio da sua nova corte depositam esperança no coração do povo.

Mais do que a história de Dena Nehele, o que realmente impressiona são as relações entre personagens, complexas, diversificadas, tipicamente humanas: Theran, pela sua perseverança, Cassidy pela sua teimosia, alegria e carinho, Saetan na sua paciência, Daemon e Lucivar, como protectores, guardiães e Jaenelle como a roda-viva, a Rainha pela qual todos os Sangue se regem. Bishop traz-nos mais uma vez uma história repleta de emoções, onde as personagens tornam-se de tal maneira familiares, que nos parecem reais. Recomenda-se.

Teresa Garrocho

domingo, 22 de novembro de 2009

Um livro - Um filme


O projecto LE.I.A,  a BE/CRE e o projecto sala_de_cinema da Escola Secundária Manuel Teixiera Gomes, numa iniciativa conjunta, vão apresentar na 4ª feira, dia 24 de Novembro, às 14h 30, na sala de cinema, o filme Blindness, de Fernando Meirelles, com argumento baseado na obra de José saramago, Ensaio sobre a Cegueira.
Para abrir o apetite para o filme publicamos a opinião de uma aluna sobre o livro.
Não fique cego! Veja o filme, leia o livro e envie o seu comentário!

José Saramago, Ensaio sobre a Cegueira


“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”
Nascemos dotados de uma capacidade que nos permite ter uma noção das formas que existem no mundo, das cores, da beleza e da diversidade que o revestem – ver. Mas nem todos vêm. Olham. Olham imagens, mas a o hábito, e sobretudo a indiferença não possibilitam que estas imagens sejam observadas, “vistas”. Assim, reparar, ver, não é nada mais do que libertar-se da superficialidade da visão para aprofundar o interior do que é o homem e, finalmente, conhecê-lo.

A partir desata frase – “Se podes ver, repara.”- Saramago constrói um mundo que literalmente não vê. Esse “não ver” não é uma doença que surge de outro mundo, é uma doença que sempre existiu na nossa sociedade.

Basta olhar à nossa volta: temos tudo. Sistemas que asseguram o nosso bem-estar. Créditos, bancos, mercados, fábricas, escritórios, centros de saúde e apoios para idosos. Temos um estado, um governo que organiza tudo. Para fazer parte desta sociedade basta adaptar-se às regras e pagar impostos. Acreditamos que somos infalíveis e que estamos seguros. O castelo de cartas está perfeito. Mas … se uma carta deste castelo cair? Se todo o castelo ruir, como poderemos sobreviver?

Estamos tão habituados ao nosso mundo que “perdemos a nossa vista”; a superficialidade com que nos fazemos “felizes” impede-nos de reparar para além das aparências.

José Saramago vê então a cegueira como uma alegoria, configurando o estado de crise em que vive a nossa sociedade. Os seus pilares são tão fracos que basta um vento para destruí-los. É por isso que a sociedade descrita pelo autor não é capaz de se organizar quando os seus membros cegaram. A nossa sociedade não é mais do que um ser vivo que precisa de comida e de bebida. Por que razão é que as personagens de “Ensaio sobre a cegueira” se comportam como animais selvagens ao terem perdido a luz dos olhos? Onde está o “fato” que os distinguia dos animais? No manicómio, para onde são evacuados os cegos, as regras do humano são quebradas, em nome da “força do mais forte”. Aí, o instinto de sobrevivência das personagens toma conta destas. No manicómio, os anéis, a prata e o ouro não valem nada. É necessário chegar até à comida.

“Um corpo também é um sistema organizado, está vivo enquanto se mantém organizado, E como poderá uma sociedade de cegos organizar-se para que viva, Organizando-se, organizar-se já é, de uma certa maneira, começar a ter olhos, terás razão, talvez, mas a experiência desta cegueira só nos trouxe morte e miséria, os meus olhos, tal como o teu consultório, não serviram para nada.”

Enfim… a obra é um convite de José Saramago para pensarmos na humanidade, no mundo que ainda não aprendemos a olhar.

Ao ler este livro sentia a confusão, o medo que circulava pela cidade. Quando fechava os olhos e os abria de novo, sentia-me feliz, grata pela luz e pelas cores que chegavam aos meus olhos.

O médico e a sua mulher, a única personagem que não cega, a única luz no escuro, talvez o resto de amor, de sensibilidade e de juízo que existe dentro de nós, foram para mim os heróis da história. Quase que me sentia responsável por esta última, não poderia acabar de ler e deixá-la sozinha. O que mais me fascinou no livro foi a possibilidade de “sentir” como se estivesse nesse mundo imaginado por Saramago. Sentir. Ver. Apreciar. Reflectir. VIVER.


Laila Franke

Nora Roberts, A VILLA

Decidi ler o livro “A Villa” de Nora Roberts porque é um dos seus livros mais recentes e eu sou fã das suas histórias e escrita. Adoro literatura romântica que contenha algum suspense. Pessoalmente gosto de romances, mas não daqueles “lamechas”, por isso identifico-me com os livros que Nora escreve, uma vez que desenvolve também intrigas.


Este livro envolve duas grandes famílias italianas produtoras de vinho, a Giambelli e a MacMillan. Estas uniram-se, formando apenas uma, através de um casamento entre dois membros de cada uma das famílias.

A história começa quando Tereza Giambelli propõe à sua neta, Sophia Giambelli, que aprenda todas as etapas de produção de vinho com Tyler MacMillan, um jovem atraente com um grande conhecimento no assunto. A proposta consistia em Tyler ensinar a Sophia todas as etapas da produção de vinho e ela, uma vez que trabalhava na secção de publicidade, ensinar-lhe toda a parte da mesma e da comercialização do vinho. Esta parceria vai ser difícil, mas vai melhorar com o surgimento de alguém querendo ameaçar a reputação dos vinhos Giambelli. Existe alguém que quer muito mais que destruir apenas o negócio dos vinhos, mas só quando o pai de Sophia aparece morto e os membros da família são postos em causa como possíveis suspeitos, uma vez que eles tinham razões para o matar, é que a situação se complica. Toda a família Giambelli e MacMillan se une para tentarem resolver o problema, tornando Sophia e Tyler ainda mais próximos, o que resulta num inesperado romance. Será que a família Giambelli vai conseguir superar esta armadilha? E o que vai acontecer ao romance frágil, entre dois jovens com interesses diferentes, perante tamanha manipulação?

Uma história fantástica, de amor e intriga. Ninguém vai querer ir dormir sem acabar de lê-la!
O talento da escrita Nora Roberts melhora em cada livro que escreve e com o passar da idade, tal e qual como um bom vinho!


Ana Raquel Duarte

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Orbias - as guerreiras da deusa

“Orbias - as guerreiras da deusa” narra a história de Noemi, uma rapariga aparentemente normal, como todas as jovens adolescentes, que subitamente vê a sua vida mudar completamente. Descobre que é uma das seis guerreiras de Orbias, um mundo paralelo ao nosso, transformando-se na belíssima e famosa guerreira da omnisciência, o Anjo Guerreiro, líder das seis guerreiras.


Sebastian, um “orbiano” misterioso por quem Noemi acaba por ter “um fraquinho”, acorda-a transformando-a em Anjo e conta-lhe que o dever de cada uma das guerreiras é impedir que Orbias (criado pela Deusa) e o nosso mundo (criado por Deus) se unam outra vez, causando o caos em cada um deles.
Noemi apercebe-se que Sebastian, membro da sociedade escarlate, lhe omite muitas partes da história, provocando-lhe uma certa curiosidade.
Entretanto, a eles juntam-se mais guerreiras, descobrindo um inimigo que se espalha por todo o mundo, ocupando cargos muito importantes na Terra, a sociedade índigo, que tenta, a todo o custo, derrotar e eliminar as guerreiras para juntar os dois mundos.
Ao longo da trama desenrolam-se imensas batalhas entre as guerreiras e membros da sociedade inimiga, a maior parte, mulheres.
Noemi e Sebastian acabam por apaixonar-se, sendo separados por uma missão muito perigosa atribuída àquele pela sociedade escarlate.

Esta história é bastante divertida, sedutora e cheia de aventura, fazendo-nos viajar nas lindas e exóticas paisagens de Orbias.

Penso que o autor teve como pontos de referência para escrever o livro a própria região do Algarve. Notei que o capítulo em que Lorelei, uma das guerreiras, a sereia, se localiza, nada mais, nada menos, do que em Portimão – Handyport, ou Porto à mão. Reparei nas referências ao rio Erade, ou Arade e ao centro comercial da Grand City, ou seja, o Fórum do Algarve, em Faro, descrito no livro como “uma espécie de igreja”, a uma hora de distância de Portimão. Achei engraçado o conceito de “triganjas” formado da mistura de trigo e laranjas, o que associei a comida geneticamente modificada.

Como leitora de literatura fantástica que sou, confesso que este livro me conquistou.

Carina Dias

sábado, 7 de novembro de 2009

Fábio Ventura na ESMTG



Na segunda-feira, dia 26 de Outubro, a nossa escola teve o privilégio de receber no seu auditório, um seu ex-aluno, Fábio Ventura, um jovem, que recentemente publicou um livro de literatura fantástica – Orbias, as Guerreiras da Deusa.
A sessão foi aberta pelas professoras Rosário Cristóvão, coordenadora da BE/CRE, e Ana Gonzaga, responsável pelo projecto LE.I.A.. A biografia de Fábio Ventura foi apresentada por mim própria, Ana Félix, e de seguida, uma outra aluna, Carina Dias, contou-nos um pouco da trama de Orbias. Depois, foi a vez de Fábio nos falar um pouco sobre ele, sobre as razões que o levaram a escrever este livro, em que é que se inspirou, entre muitas outras coisas. Os alunos tiveram a oportunidade de levantar questões sobre a obra e, no final, da sessão quem quis pôde obter um autógrafo.
Devo dizer que a sessão ultrapassou as minhas expectativas, na medida em que os alunos e professores, que enchiam o auditório da escola, se mostraram muito interessados, ao interrogarem o escritor com perguntas sobre o livro e até mesmo sobre o processo de publicação do mesmo, descobrindo-se que a juventude de hoje é uma apaixonada pela literatura do Fantástico. Alguns alunos já leram a obra e partilharam opiniões e até críticas com Fábio Ventura.

Este mostrou-se um excelente comunicador com o público jovem e conseguiu cativá-lo de forma exímia.
Desejo que se realizem mais sessões como esta na nossa escola, que levem a juventude de hoje a ler cada vez mais.

Ana Félix





sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Não te deixarei morrer, David Crockett


Estava indecisa sobre que livro que deveria ler. Tenho imensos livros em casa, posso dizer que é quase uma biblioteca, nem sei onde os pôr. Sou daquelas pessoas que estou a ler um livro, e deixo-o em metade, quando não estou a gostar ou quando aparece outro que me interesse mesmo. Mas naquele dia não tinha nenhum para ler, fui à prateleira do meu quarto e vi no meio de tantos, o livro de Miguel Sousa Tavares, que, como todos devem saber, é actualmente o comentador da TVI e que escreveu também o Equador- o mais vendido até agora - e muitos mais.


Este livro é uma selecção de artigos dispersos, uma reunião de textos inéditos e crónicas publicadas no jornal Público e na Revista Máxima, nos quais Sousa Tavares se expõe de uma forma quase infantil, ingénua: «David Crockett representa uma espécie de pureza inicial, um excesso de sentimentos e de sensibilidade, a ingenuidade e a fé, a hipótese fantástica da felicidade para sempre», justificação que o próprio escritor dá para a escolha do título do livro, dando igualmente a conhecer-se como alguém que não desiste da hipótese fantástica da felicidade.

O título do livro é extremamente apelativo porque se trata de uma declaração, quase um juramento, que se faz a um indivíduo, David Crockett.

Este era um protagonista de uma história infantil, que, tendo sofrido uma emboscada por um grupo de índios, foi transportado prisioneiro para um acampamento, onde uma linda índia cuidava dele, molhando-lhe a testa com água, tratando das suas feridas, vigiando o seu coma e murmurando para o seu prostrado e inconsciente guerreiro: “Não te deixarei morrer, David Crockett”. Foi baseado neste seu ídolo, que sempre o encantou, que Miguel Sousa Tavares, escreveu este livro, pois tal como ele diz «eu era David Crockett, que queria correr mundos e riscos, viver aventuras e desvendar mistérios, no entanto, teria de sofrer muito, mas encontraria sempre a tal índia que cuidaria das minhas feridas e não me deixaria morrer», por outras palavras, David Crockett apenas representou a sua infância repleta de aventuras, descobertas, riscos e de encontros.

O livro tem cerca de 38 pequenas histórias, versando vários assuntos e vários locais, mas quase todas têm como núcleo central, o amor.

Na minha opinião, este livro é uma reflexão constante sobre o mundo que nos rodeia e a vida do dia-a-dia. Revela uma serenidade impressionante acerca do que esperamos da vida. Aconselho vivamente este livro, de leitura fácil, o que torna o bastante acessível.

Márcia Vicente
 Se quiser ler o livro on-line, é só "clicar":
http://www2.eb23-guimaraes.rcts.pt/textos/Livros_online_PNL/David_Crockett.pdf":

sábado, 31 de outubro de 2009

Corações na Atlântida

“Um livro é um bom amigo”, sem dúvida.
Um livro é um bom amigo, não só porque nos transporta para uma outra dimensão, mais imaginativa, mais criativa, como também nos fornece uma cultura geral vastíssima e nos dá a conhecer novas palavras e expressões.
Ler um livro, seja ele qual for, é um desporto mental, que nos obriga a crescer.
Um dos livros que mais me marcou, até hoje, foi “Corações na Atlântida”, de Stephen King. O livro narra a história de três pessoas cujas vidas estão ligadas entre si, nem sempre devido a boas circunstâncias. À medida que estas pessoas crescem vão-se apercebendo de que os sonhos não são para quem está acordado.

Devido às circunstâncias da vida, estas três amizades acabam por se separar, encontrando-se mais tarde, devido às consequências de um acontecimento conjuntural, também abordado no livro de uma forma muito subtil, que marcou a história da Humanidade, a guerra do Vietname.

Um “thriller” que aconselho.


André Oliveira

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O Papalagui, comentários de Tuivauii, chefe da tribo Tiávea nos mares do Sul


Certo dia, a minha mãe perguntou-me que disciplinas iria eu escolher. Respondi prontamente, Geografia C e Antropologia. A minha mãe entusiasmou-se com a minha escolha pela disciplina de Antropologia e foi mergulhar no seu escritório à procura sabe-se lá de quê. Passaram-se uns 10 minutos e minha mãe não voltava, por fim, lá veio com um livreco na mão. O dito livro era de tamanho pequeno, A5 portanto, era de cor escura, tinha uma estranha imagem de ilustração de capa, e seu autor era um tal de Tuiavii, chefe de uma tribo dos mares do sul. Este livro não me chamou em nada a atenção, mas, pelo contrário, o discurso de minha mãe sim. Ela disse-me que qualquer aluno que quisesse estudar Antropologia deveria de ler este livro. Era, portanto, um livro basilar para o estudo da Antropologia. Era óbvio que eu o iria ler!
Nesse mesmo dia comecei a lê-lo. Logo a introdução, não do autor, mas sim de um alemão, Erich Scheurmann, dá-nos a definição de tão estranho título: Papalagui é o nome que Tuiavii dava ao branco, ao europeu. Ora bem, iremos às definições. Tuiavii era o chefe de uma tribo, que vivia na aldeia de Tiavéa. Essa aldeia situa-se na ilha de Upolu, pertencente ao arquipélago de Samoa, na Indonésia. Estas ilhas eram pertencentes ao Império Alemão do ultramar. Este senhor, chamado Erich Scheurmann, foi um antropólogo que foi viver com esta tribo, dessa aldeia, a fim de a estudar devidamente. No livro estão-nos apresentados todos os escritos do Tuiavii, sobre o Papalagui. Na sua infância, Tuiavii expressou um enorme desejo em visitar as terras da longínqua Europa. Contudo, apenas na idade adulta conseguiu tal feito. Ele visitou um por um todos os países europeus, assimilando conhecimentos precisos sobre o modo de vida e a cultura desses países. Este indígena, sem cultura erudita, possuía uma enorme capacidade de observação e conseguia tirar importantes ilações de coisas aparentemente insignificantes para nós. Essa observação era neutral, isenta de presunção ou preconceitos; nada o desviava da verdade, embora não abandonasse o seu ponto de vista.

O antropólogo Erich, teve um importante papel na difusão destes textos tão importantes para o estudo da Antropologia. Ele viveu na aldeia do Tuiavii durante mais do que um ano e tornou-se amigo do chefe da tribo. Este, por sua vez, mostrou-lhe os seus textos e deixou-o traduzi-los para alemão. Erich publicou-os após a sua chegada à Alemanha, sem o conhecimento do samoense.

Ora bem, e o que tem de tão interessante para nos contar que nós não saibamos? Tem toda uma nova perspectiva da nossa sociedade; tem a sua visão clara e a sua linguagem simples que nos mostram a sua filosofia que não provem do estudo mas sim da observação. É essencialmente um livro diferente; com uma perspectiva diferente. Pensemos nisto: se consideramos as sociedades do Oriente ou da Ásia diferentes, observemos quão diferente é a nossa sociedade para eles. Os Samoenses podiam não ter nenhum tipo de educação similar à nossa, nem conhecimentos eruditos como nós, mas não eram nenhuns “coitadinhos” para nós termos pena deles, muito pelo contrário, eles é que, à luz dos discursos do seu chefe de tribo, tinham pena de nós, por vivermos numa sociedade mergulhada nas trevas e fora do conceito de Deus.

Aconselho vivamente todos a lerem este livro, para melhor compreenderem a nossa sociedade.


Ruben Santos

quarta-feira, 7 de outubro de 2009


O quase fim do mundo - Pepetela - A escolha do livro


As minhas escolhas de livro nunca foram fáceis. No entanto, desta vez não foi muito difícil.


O fim do Mundo, quantas vezes é que ouvimos falar disso hoje em dia? Existem tantas teorias acerca disso…em 2012 o calendário dos Maias acabará e com ele o nosso Mundo, virá um meteorito e destruirá tudo…enfim, não vou estar a enumerá-las todas, afinal quero contar como é que escolhi o meu livro.

É estranho como certas pessoas nos impressionam. Podem ser as pessoas mais estranhas e esquisitas…

«Era uma daquelas noites quentes de Verão. Fui a uma feira medieval, em Silves, com a minha mãe, a minha irmã e uma amiga. Já tinha visto aquela feira há um ano atrás, até achava alguma graça. As pessoas pareciam adorar esse seu papel de habitantes de outros tempos. (Seria uma vida mais fácil, menos artificial?)

Quase no fim da noite, fomos a uma tenda em que uma Senhora de meia-idade vendia chá.

Essa Senhora era conhecida na minha família como «bruxa das ervas» pois, desde sempre tinha a sua quinta lá nas montanhas onde cultivava as mais diversas ervas. Além disso, o seu aspecto físico condizia perfeitamente com esse seu “cognome”.

De entre os dentes amarelos conseguia-se adivinhar ainda algumas ervas enquanto falava com a sua voz baixa e sussurrante. Todo o seu corpo vestido de linho emanava um aroma a alecrim e jasmim, tudo era natural e, de um certo modo, estranho.

O mais estranho não era, no entanto, o seu aspecto físico. Eram as suas palavras…

Enquanto a minha mãe lhe perguntava pelas filhas, a minha irmã e eu escolhemos alguns chás. Quando íamos pagar o chá de Liberdade e de Anti-stress, a «bruxa-das-ervas» disse-nos ainda que devíamos mandar energia positiva para o chá, senão não teria efeito.

A minha irmã e eu evitámos um riso quando acrescentou que não podíamos gritar para a água, pois, esta assim estaria «poluída». Apesar desta ideia parecer estranha, é verdadeira: as moléculas da água transformam-se segundo o ambiente em que estão inseridas. Mas como é que a «bruxa-das-ervas» o poderia saber??!

Esta pergunta iria colocar-me mais uma vez nesta noite, no entanto não seria assim tão fácil responder-lhe.

“Para o ano não vou estar cá na feira. Vou para uma montanha em África, começar uma nova vida”-captei de uma conversa da «bruxa-das-ervas» e da minha mãe. “-Em 2012, já não poderei cultivar nada aqui. O mundo acabará, só África é que não será atingida, mas então não sabem disso?”- continuou a «bruxa-das-ervas».

Sim, sabia, já estava cansada de o ler em revistas…no entanto, desta vez era diferente. Como é que uma pessoa tão ligada à natureza, tão sábia e verdadeira acreditava nessas teorias «idiotas»?

Para ser honesta, a «bruxa-das-ervas» é uma daquelas pessoas estranhas, que até pode ter poucos estudos ou nenhuns, mas às quais se acredita quase tudo. Parece existir qualquer coisa que as transcende…talvez seja a sua profunda união com a natureza, não sei…Só sei que tenho um enorme respeito pela «bruxa-das-ervas» e que a sua previsão o fim do mundo me deixou bastante inquieta…”

Sim, foi dessa inquietude que nasceu o meu interesse pelo Quase fim do Mundo. Já o tinha visto imensas vezes nas estantes da livraria. Sinceramente, a sua capa não me atraia minimamente. Tinha o aspecto de um «livro de consumo». Mas não conseguia ignorar as palavras da «bruxa-das-ervas» e fui pegar nele. Quase não acreditei nas palavras que encontrei nas costas do livro:

E se a vida animal de repente desaparecesse da Terra excepto num pequeno recanto do mundo e em doses mínimos? Talvez as causas se conheçam depois, mas o que importa é a existência de alguns seres, aturdidos pelo desaparecimento de tantos, e procurando sobreviver. É sobre estes sobreviventes e as suas reacções, desejos, frustrações mas também pequenas/grandes vitórias que trata este romance. Detalhe importante: o recanto do mundo que escapou à hecatombe situa-se numa desgraçada zona da desgraçada África. O que permitirá questionar as relações contemporâneas no velho Mundo.

Laila  Franke