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Ana Gonzaga

Rosário Cardoso







quarta-feira, 20 de abril de 2011

No rasto de Pessoa e de Eugénio

"Não.


Eu simplesmente sinto

Com a imaginação.

Não uso o coração."


Exprimo o que pensava sentir. Escrevo o que julgava saber. Digo o que cria conhecer. Pensava ter prazer naquilo que vivia, tentando não pensar, enquanto pensava no gestos que absorvia. Julgava saber aquilo que não sei, sabendo, na altura, que, na verdade, não o sabia. Acreditava desfrutar os momentos vividos, consciencializando-me que esses estavam perdidos. Pretendia viver na pele de outrem, deixando a minha razão funcionar que nem vaivém. Um vaivém de consciência e imprudência, de crer no prazer momentâneo, quando esse não mostra, sequer, a sua existência.

No dia-a-dia, "Exprimo o que já não sinto/ Escrevo o que já pensei. / Em arte, se sofro, minto:/ Registo o que já não sei." Represento a pessoa que não sou, capturando a pomba que nunca voou. Partiu a asa, logo cedo, fingindo voar, quando, na verdade, tinha medo.

Criei um heterónimo nunca antes conhecido, escondendo o meu ortónimo, que, agora, anda perdido. Perco-me na minha consciência, acreditando ser inconsciente, quando a razão está sempre presente.

Procuro usar os sentidos, notando como andam perdidos, na imensidão do pensamento, onde é desperdiçado talento.

Perdi tempo da minha curta jornada, pensando em ti, sempre preocupada, tentando explicar os vários porquês, que, cada vez, são mais, tornando todas as minhas crenças irracionais.

Vagueio pelos dias, sem qualquer objetivo, criando obstáculos sem aparente motivo. Talvez queira entreter a mente, forçando emoções, acreditando que o coração está demente e não sente.

Nunca sei onde quero chegar, muito menos como ou quando parar. Talvez o fim seja a solução, talvez a morte seja a libertação. Porém, a morte é para os fracos, aqueles que não pensam, para os que desistem. Eu penso e existo, pertencendo ao grupo dos resistem.

Não sei colocar um ponto final nesta confusão. Não consigo chegar a uma conclusão. O melhor, talvez, seja terminar gritando e exclamando "eu estou viva!", apesar de ninguém o saber.

No fundo, continuarei perdida nos meus pensamentos, usando um heterónimo como entretenimento, para aqueles que observam a ilusão que transmito.

Ao chegar ao fim, noto a pobreza das minhas palavras, desiludindo-me com a forma como foram usadas...

Talvez, quem sabe, um dia, tal como por magia, as palavras ganhem vida, percorram a minha folha de papel, sozinhas, lendo a minha mente, tornando-me, ainda mais, transparente.



Mónica Cid Nobre

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