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Ana Gonzaga

Rosário Cardoso







quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Lisbon Revisited por Joana Albino



Capítulo I - O ACORDAR
O meu despertador toca e a televisão acende sozinha (não, não é magia, a televisão é programável). São seis da manhã… E, por na noite anterior ter ficado até às tantas a ver a entrega de prémios da Sociedade Portuguesa de Autores e um espantoso e estranho discurso de Júlio Pomar, abro os olhos, dou a habitual e hesitante volta de 180º na cama. Espero dois minutos (a preparação psicológica necessária para me levantar a uma hora destas) e arrasto-me até à casa de banho, ainda em pleno estado de dormência. Olhei-me ao espelho e não vi nada porque o sono não deixava os olhos abrir. Desvio o olhar para a janela à esquerda e vejo que ainda é de noite. (quando estou acordada a estas horas, geralmente é porque estou a chegar a casa, nunca porque estou de saída…) Lavo a cara, os dentes e essas coisas todas que todos fazem de manhã mas, sinceramente, mais com o intuito de despertar das incompletas cinco horas de sono que de outra coisa.

Grito lá para cima “Mãe, acorda.” De resposta, chegou-me um murmúrio ensonado de uma mãe ensonada. Enquanto na minha cabeça surgia personificado como um elefante o esforço da minha mãe para se levantar e enfrentar o frio das seis e meia da manhã, patino até à cozinha e abro um dos frigoríficos e, sem demora, atiro para dentro da minha mala – que por vezes parece um saco de entulho – quatro iogurtes, uma banana e uma água do Luso para ilusoriamente me precaver. Isto tudo para não ter de ir cortar pão, barrar a manteiga, estender o queijo, fechar a sandes e ainda ter de me dirigir a despensa, que fica a 1 metro do balcão da cozinha, para ir buscar prata para a embrulhar.

Posto isto, começo a entrar em estado de impaciência declarada – na minha cabeça já só aparecia a imagem de Lisboa vista da Ponte 25 de Abril – e começo a pressionar a minha mãe, “Despacha-te!”, o que a conseguiu irritar solenemente. Dez minutos depois, estava eu e ela no carro em direcção à escola. E ainda é de noite e está muito frio. E eu vou a ouvir músicas dos anos 80 na rádio e a cantar e a minha mãe não vai a ouvir nada porque está demasiado determinada em fazer-me começar o dia a ouvi-la com as “Crónicas do Levantar da Mesa”. Passo a explicar: “Crónicas do Levantar da Mesa” é uma saga, ou melhor, um programa quase diário que só se apanha com frequência sintonizada na minha vizinhança. Podia ser um programa televisivo ou radiofónico, em que a única coisa que se apreende são reclamações acerca do que a filha – eu – não ajudou a fazer, e que, pelo meio, contém sentenças de várias origens, com a devida justificação. A de hoje revelou-se um mero “Devias ter ido a pé, para não seres mal agradecida”. Mas estes episódios não ocorrem senão quando a minha mãe é submetida a pressão psicológica, geralmente da minha parte. Mas eu sou uma muito boa filha, como podem confirmar. Cheguei à porta da escola e até me esqueci de lhe pedir dinheiro!

Bom dia a todos, e queixo-me do frio e do sono e do facto de ainda ser de noite e da minha mãe ter a pujança e coragem de às seis e meia da manhã me lembrar que nem sequer a ajudei a levantar a mesa ontem. E estamos todos, e o autocarro azul-marinho da Câmara também, já com o motorista lá dentro. Imagino que este também se tenha levantado bastante contrariado por, às sete da manhã, ter de conduzir uma dúzia de moços pequenos barulhentos a Lisboa.
Se eu fosse esse senhor, até me dava por contente pelo facto de eu não me ter posto a cantar e de nem sequer quase ter falado até à Ponte 25 de Abril, porque sou sem dúvida das pessoas mais barulhentas que conheço… Mas sim, passada a ponte, acabou. Aquela vista do Padrão dos Descobrimentos, das casas, dos castelos e daquela imensidão de Tejo dá-me um arrepio pelo corpo todo. (continua...)

Joana Albino, 12º D

1 comentário:

  1. Olá! Está um texto muito engraçado e bem escrito!

    Dou os meus parabéns a Joana!

    Beijinho
    Sara Veríssimo

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